10 setembro 2009

TRANS_JORDAN em PETRA

"Quanto mais longe vais no deserto mais te aproximas de Deus"

31,01Set – Wadi Musa - Wadi Rum – Aqaba

Desde o centro de visitantes de Petra até ao ponto com o mesmo nome em Wadi-Rum passaram 108 kms. O “vazio” do deserto tem sempre algo para oferecer e é muito mais que areia. À minha frente emergem cumes abruptos que preenchem um cenário inabitado há muitos milhares de anos. E o que dizer da junção de cebolas, tomates, especiarias e malaguetas aquecidas em lume de carqueja e uma refeição cozinhada num forno enterrado no chão e coberto de areia?!!! Até as cebolas inteiras eram deliciosas... À hora da refeição, os sentidos eram o meu guia. Apesar de ser confrontado com sabores para os quais não encontro o nome correspondente, não nego o privilégio que tenho ao provar pratos diferentes recheados de condimentos onde tudo tem um cheiro, cor e forma distintos. Os países são feitos de pessoas e são elas que transformam estas experiências em momentos gratificantes que fazem os dias saberem a vida. Por isso, estas viagens em bicicleta não me incham as pernas, incham-me o cérebro porque volto sempre cheio de ideias.Acabo como comecei. Só eu sei porque não vou para casa











28, 29,30 Ago Dana Village-Wadi-Musa (PETRA)
Já era tarde quando nos despedimos do simpático hotel no vale da reserva de Dana. Seguindo Sul ao longo do sistema montanhoso que se extende até às terras baixas de Wadi Araba, os contrastes e trilhos panorâmicos com horizontes longínquos foram uma constante. Em cada dia de pedalada na estrada, em qualquer altura e em qualquer lugar, acostumei-me a ser surpreendido. Paisagens de ouro estão à minha espera em todos os locais. Petra é o tesouro. Aqui as palavras são sempre poucas e pequenas para transmitirem tudo o que avistamos e sentimos. Petra é assim, uma vírgula no tempo. É preciso ver para acreditar. 72 horas não são suficientes para absorver e consolidar a perfeição de colossais monumentos porque esta maravilha do mundo é composta por mais de 800, todos escavados na rocha. Sei que a memória sofrerá com a erosão do passar dos anos e apagará alguns destes momentos. Não interessa, o presente é agora e há que vivê-lo. Intensamente. Little Petra reserva algumas surpresas. Não há turistas. Sento-me, abro a mochila e fico para almoçar na melhor esplanada que tive até hoje. O patim de um monumento Nabateu. De volta à turística Wadi Musa, aguardo o pôr-do-sol. No Ramadão significa que as ruas e o comércio voltam a ter um movimento fora do normal, com uma excepção, podemos comer. Na vila também estavam os 2 beduínos que exploravam o bar (caverna) junto do Monastery, o monumento situado no ponto mais alto de Petra. Ao jantar acabei por me sentar como convidado, conversar com 2 sábios, e sair como amigo. Tenho mais quem uma maravilha em Petra. Tenho um local divino, indiferente ao passar do tempo e onde posso regressar sempre que quiser. E não é preciso sonhar, basta dizer Incha-Lá (Se Deus quiser)

TRANS_JORDAN em BTT

" Só eu sei porque não vou para casa"








27Ago Al-Karak-Dana Village
Ao adicionar quase 4lt de água com os restantes bens essenciais da mochila, esta tornou-se uma âncora e um desconforto extra para os 30 kms de subida contínua que nos aproximam de Táfila. Dentro das cidades, o caos urbanístico e automobilístico é inenarrável. Aqui apenas compro algo que possa comer. Algures... O Ramadão e a cultura deste povo levam a que qualquer tomada de alimentos seja feita longe dos olhares dos transeuntes. Não é fácil, parece que estão por todo o lado. No final de um dia de quase 100 kms, o cansaço acumulado não me dá a mesma disposição para ouvir tantas buzinadelas, fugir dos cães e dos miúdos que muitas vezes mandam pedras (à Angel Fish).

26Ago Dead Sea – Al-Karak
Alguns meses atrás quando o Rakan me alugou as bikes e em conjunto traçámos a rota desta travessia, ele perguntou-me se eu tinha a certeza que queria subir desde o mar morto em pleno Agosto?!! Hoje percebi porquê. Foi agonizante. Menosprezamos a montanha e carregados com "litradas" de água e em bicicletas pesadas e desajustadas, nunca vinte e poucos quilómetros me custaram tanto a fazer. Ia tão lento e as moscas eram tantas que até pela boca me entravam. Nisto e com o suor incessante a escorrer face abaixo, obrigavam-me a parar porque em determinadas alturas não via nem conseguia respirar. A imensidão de cumes áridos e secos eram como uma cortina que limitava o perscrutar do horizonte. O tempo passava, novos cenários não surgiam, no entanto, a quietude e solidão do lugar continuavam lá, comigo. Muito devagar.



25Ago Madaba- Dead Sea Há 5 dias que ando em “modo terrestre” pela Palestina e Amman. Durante este tempo, proporcionalmente gastei mais em deslocamentos do que em alojamentos e por isso, a escolha da bicicleta para percorrer os próximos 10 dias todo o sul da Jordania com a Angel Fish, foi uma grande ideia. O efeito provocado no povo jordano aquando da passagem da bicicleta é fascinante. Muitos risos, adeus, sinais de luzes, buzinadelas e diversas ofertas de ajuda para apanharmos boleia. Tudo vale para demonstrar o apreço e respeito por tão nobre veículo de transporte movido a esforço e essencialmente muita paixão. As montanhas da reserva natural de Mukair revestidas a tons de castanho são áridas por natureza. Elas são rasgadas por vários vales e por uma fenda geológica que se estende até ao norte de África. Os seus canyons e trilhos permitem, por um lado, a observação da vida selvagem, e por outro o cannyoning. Eu aproveito o manto negro do alcatrão para a atravessar e descer até ao ponto mais baixo da terra. O mar morto (400 metros abaixo nível do mar). Nadar neste misterioso lago salgado e adormecer numa cama de rede dos chalets existentes nas suas margens, é apreciar uma experiência única. Por muito que me esforce, torna-se quase impossível afundar-me numa água cuja percentagem de sal atinge os 350g por litro. As suas propriedades curativas combinadas com a temperatura, convidam a ficar. O que parece difícil encontrar por aqui é mesmo água fria para se conseguir tomar banho.

Jordânia e Israel com pedais e mochila

My dream trip is only two wheels away

Eis que chegaram as férias da missão. Ao invés de ir para Portugal, escolhi viajar para outro país do Médio-Oriente. Quero ter o prazer em ver uma das 7 maravilhas do Mundo; Quero estar presente no dia-a-dia de outro povo para ver e aprender; Quero ver e sentir-me impressionado.
Preciso procurar o que é novo, desafiar o comum e o vulgar partindo ao encontro de novos locais que me realizem os sonhos e me transmitam o sentido da vida.
Tudo o que quero é uma vida simples, num mundo maravilhoso, percorrido em bicicleta.
Este meu desejo de errancia, não o encontrei nem me cruzei com alguém que mo transmitisse ou influenciasse. Senti-o na adolescência quando descobria os livros dos Cinco e de Júlio Verne.Para Verne, Tudo o que uma pessoa pode imaginar, outras podem realizar. Sem as viagens, os meus sonhos nunca se tornariam reais. Não me basta ler e pesquisar, preciso pisar os locais para os verdadeiramente conhecer e Petra está entre as 1001 coisas que desejo ver, antes de morrer