27 setembro 2011

Patagonia Luso Expedition

 Uma aventura em português de 12Nov a 16Dez11

A ideia é percorrer esta rota em autonomia desde Balmaceda (Chile) por toda a Patagónia chilena e argentina.
Serão 28 etapas por esta Terra longínqua que ultrapassa os horizontes da imaginação. Com os Andes ao nosso lado e com alguns troços coincidentes com a mítica RUTA 40, a pan americana e a carretera austral, cruzaremos diversas vezes as fronteiras do Chile e da Argentina, avistaremos glaciares, cumes gelados, extensas e estéreis planícies, e muito antes de chegarmos ao fim do mundo na cidade austral de Ushuaia, atravessaremos o estreito de Magalhães e, ainda temos toda a Tierra del Fuego para desfrutar


É uma expedição com causa solidária. É uma expedição com efeito positivo.




Ponha o nariz neste projecto. http://ppl.com.pt/investment/patag-1020

GR_14 Rio Douro -Da nascente à foz ao sabor da corrente


“Este não é o rio que passa na minha aldeia” *; este é o rio que atravessa o meu país; este é o rio que vem de longe e tudo transformou por onde passou, além disso, estrutura e dá nome às inúmeras povoações que ao longo das suas margens vão ganhando vida.


É um grande corredor verde que constitui um imemorável espaço de lazer e desporto aliado a um valor histórico, natural e cultural, desde o seu nascimento até ao monumental cenário em Portugal.

Pedalando junto ao Douro - que serpenteia entre arribas e que sulca montes xistosos - estamos a percorrer uma das grandes rotas europeias.

*Alberto Caeiro



11Ago11 - Burgos-Duruelo de la Sierra - 99km
 


Inicialmente parecia uma simples ligação por estrada nacional desde a nossa saída do Sud-Express em Burgos até Duruelo de la Sierra.

A nossa surpresa começou com o traçado da via verde espanhola (Santander-Mediterrâneo) por onde pedalámos mais descontraídos; a surpresa continuou com a amplitude térmica sentida e que variou entre os 11º e os 42º C.


As características próprias das searas ondulantes e isoladas de Castela e a noite perdida a viajar, forçou-nos a acreditar que estamos perante mais um desafio.


12Ago11- Duruelo de la Sierra- Soria - 86km



Temos à nossa frente, os Picos de Urbión. É lá, a 2140 m que o rio Douro nasce e segue o seu caminho. É para lá o nosso caminho.

Andar a pé faz bem à saúde. Seguir o “sendero” do Douro até onde tudo começou, consumiu-nos a manhã inteira e praticamente o que restava da nossa energia. Fiz calos nas mãos de tanto carregar e empurrar a bicicleta; o sacrifício agora passado foi substituído pelo privilégio de matar a sede no fio de água cristalina que corre daquela montanha.


Com isto tudo apenas tínhamos percorrido 10km; para o restante, haveríamos de arranjar tempo. Estamos a fazer o que gostamos.

A GR-14 mantinha-nos fiéis às margens do Douro. De tempos a tempos, uma pequena aldeia quebrava a quietude do lugar.

Chegar a Soria é reconfortante. Os trilhos marcados revelam-se exequíveis, bonitos e com uma altimetria bastante baixa



13Ago11- Soria-Berlanga de Duero - Aguilera 117 km




Este rio não molda apenas o relevo, nota-se que toda a arquitectura vai ao seu encontro. Reparamos nos enormes parques arborizados que se dilatam no sentido do seu comprimento e que são usados como zonas de lazer pela população.

Bom ritmo nos longos estradões de terra para Almazan.

Os largos estradões de macadame que caracterizam a etapa de hoje permitem um bom ritmo a pedalar mas são pisos duros e transformam-se numa tortura para quem rola em plano durante demorados períodos.


Respira-se um ar medieval em Berlanga del Duero. Dentro das muralhas, tudo está engalanado e o ambiente é de festa e de multidão.

A oferta hoteleira é escassa, encontra-se lotada e neste dia já acumulávamos uma centena de quilómetros. Urge arranjar uma solução. O salvo-conduto para quem faz o Camiño del Cid torna-se a nossa chave para o albergue em Aguilera.



14Ago11- Aguilera -Aranda de Duero – 90km


O cenário mudou, nós continuamos paralelos ao Douro. A solidão dos espaços já se dilui com as vilas amuralhadas que existem para defender os limites naturais do rio.



De Langa del Duero a Aranda del Duero, o percurso é um retrato fiel daquilo que esperávamos desta grande rota europeia. O que não esperávamos era outro dia de “fiesta” e a ausência de alojamento.


15Ago11- Aranda de Duero - Sardon del Duero – 81km




A cultura cerealífera e as cores douradas do território deram hoje lugar a um tipo de cultura mais rentável e que torna este local mais conhecido. As vinhas, o vinho e as adegas são uma referência turística.

O vinho da “Ribera del Duero” dá um sabor especial à nossa recuperação no final de cada etapa.



Espanha está em festa, ao rubro, a pulsar vida. A cada esquina, a cada beco, uma imensa massa humana. Nos últimos 3 dias, cada local que predefinimos como ponto final, torna-se ponto de passagem. É necessário recorrer à nossa motivação intrínseca para, mesmo cansados, avançarmos até encontrar algo para dormir.


16Ago11- Sardon del Duero-Tordesillas - 64 km



O nosso olhar continua a estender-se para Oeste. Ao fazê-lo, percebemos que a paisagem já não é horizontal. Os caminhos são recortados por penhascos, matas de pinheiros, canais de irrigação, estevas, choupos e outras variedades de vegetação.

Cruzar o rio e alternar entre margens, faz parte do traçado desta rota; são muitas as vezes que o fazemos.

Tordesilhas é mais que um lugar, um nome, um Tratado que dividiu o mundo. À nossa espera, uma cidade histórica onde apetece ficar horas sem fim.


 
17Ago11- Tordesillas-Zamora – 90 km




Zamora encanta-nos sempre independentemente do ano ou do motivo pelo qual cruzamos as suas muralhas. O final da etapa é aqui.

No itinerário de hoje, entre nós e o rio estavam fartas extensões de milho cujos sistemas de regas nos ajudam a suportar as elevadas temperaturas. Ainda a meio da etapa, com suor e sem fôlego, alcançamos Toro, uma bonita cidade que se encontra sobre o Douro.



18Ago11-  Zamora-Fermoselle – 94 km



O rio hoje pregou-nos uma partida. Vimo-lo de início e só praticamente a meio é que nos tornámos a encontrar porque o Douro desce dos 640 m para os 150 m de entre Zamora e Barca D´Alva. Esta descida violenta, corta, literalmente, qualquer paisagem que se lhe atravesse, formando uma fronteira natural e inexpugnável entre Portugal e Espanha.

À distância de um olhar estava Miranda do Douro. Ainda longe, ainda difícil, havia muita natureza pelo caminho.

A sinalização da GR-14 não nos conduz obrigatoriamente pelo traçado mais curto, mas certamente pelo mais bonito. A bicicleta foi a nossa cruz. No entanto, valeu a pena tal calvário.

Chegar a Fermoselle por caminho, estrada ou rio, não é tarefa fácil. A melhor maneira de ficarmos bem é…não ir!!!. Não tivemos alternativa, estava escrito, fomos para lá.



19Ago11- Fermoselle - Barca D´Alva – Pocinho – 132 km

Ziguezagueando, subindo, descendo, foi assim que entrámos em Portugal. Das 3 opções em aberto para cruzar o Douro a pedalar, escolhemos a barragem mais ao Sul, Saucelle.

Salto de Saucelle era num buraco.Lá, no fundo, o calor concentrava-se, não se dissipava, não tinha para onde ir, estava sobre nós…
Do outro lado da barragem começava o Parque Natural do Douro Internacional. Daqui, foi um esforço titânico para chegar ao Pocinho.

O tempo não estava a nosso favor, depois de Barca D´Alva tínhamos 3h para fazer 28 km. Já não havia câmaras-de-ar nem remendos (gastaram-se 8 e inutilizaram-se 4 câmaras) e continuava com um furo. Tudo na mesma bicicleta.



A subir, lentamente, à torreira do sol, o suor escorria em bica. Só avançávamos 300 m de cada vez, era como se estivéssemos a fazer séries (com inclinações de 22%).

A câmara-de-ar não aguentava a pressão, a nossa esperança residia nas pequenas aldeias pelo caminho onde, quem sabe, estaria uma qualquer bicicleta à nossa espera.

Após muita persistência a olhar para todos os quintais, conseguimos a troco de muita negociação e 10€, uma câmara-de-ar.

Estávamos em contra-relógio para apanhar o comboio. A mais de 60km/h a descer, acreditámos sempre. Como dissemos antes, foi titânico; fomos ambiciosos e corajosos mas as variáveis em jogo eram muitas, inclusive, o fogo nos socalcos e vinhedos que nos impediam de atalhar.

Valeu a pena, perdemos o comboio que ia para o Porto, mas dormimos no que regressava e ficou na estação.

Tudo em equilíbrio, tudo dividido e o resultado desta viagem tendeu para o mais infinito.




Epílogo

Após vivenciarmos os recursos naturais de um rio que foi e é uma fonte de riqueza para dois países; de atestarmos a dureza dos seus contornos sinuosos e das paisagens que atravessa, conseguimos entender porque razão existe uma versão que diz que o nome do rio deriva do latim “durus” (duro).